O corpo sabe melhor: um mecanismo de cura natural para doença inflamatória intestinal

30.05.2018

As constatações sugerem que aumentar os sinais em algumas células e não em outras poderá inclusive ajudar no tratamento do câncer do cólon

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Tratar doenças inflamatórias do intestino é extremamente desafiador: tanto os genes quanto os micróbios intestinais e a função imunológica interrompida contribuem para isso. Investigadores do Instituto Weizmann de Ciência estão propondo uma maneira de contornar essa complexidade. Num estudo com camundongos, publicado na revista científica Cell Reports, eles descobriram uma maneira de desencadear um mecanismo de defesa natural que estimula o próprio corpo a aliviar  a inflamação intestinal.

O estudo, conduzido pela veterinária Dra. Noa Stettner, que também é aluna de doutorado no laboratório da Dra. Ayelet Erez no Departamento de Regulação Biológica (Biological Regulation Department), concentrou-se no óxido nítrico (nitric oxide, NO), uma molécula sinalizadora envolvida em diversos processos biológicos. Há muito que os cientistas tentam determinar qual papel que o NO desempenha em condições inflamatórias como a doença de Crohn e a colite ulcerativa, mas o NO aliviou a inflamação intestinal em algumas circunstâncias e promoveu-a em outras.

Os investigadores do Weizmann avançaram a hipótese de que as constatações paradoxais poderiam surgir porque o NO afeta de maneira distinta diferentes tipos de células no intestino. Eles manipularam geneticamente camundongos para bloquear a produção de NO exclusivamente em tipos de células específicos: nas células que compõem o revestimento interno do intestino ou nas células do sistema imunológico. Foi constatado que os sintomas de uma doença semelhante à colite pioraram quando a síntese de NO foi bloqueada nas células do intestino; mas melhoraram quando o NO foi bloqueado nas células do sistema imunológico, particularmente em grandes células chamadas macrófagos.

Os cientistas concluíram que, se as doenças inflamatórias intestinais forem tratadas através do aumento dos níveis de NO, isso pode causar efeitos colaterais nas células fora do revestimento intestinal. Stettner, com a ajuda de colaboradores do Instituto Weizmann e de outras instituições, decidiu desenvolver um método para aumentar a produção de NO apenas nas células do revestimento intestinal.

Tomaram como base a descoberta anterior de Erez de que uma enzima chamada ASL é responsável pela produção do aminoácido arginina, a matéria-prima a partir da qual o corpo fabrica o NO. Os investigadores se concentraram em duas substâncias naturais: a fisetina, existente em maçãs, caquis e morangos, que aumentam os níveis da ASL, e a citrulina, existentes na melancia, beterraba e no espinafre, que aumentam a atividade da ASL.

Os dois suplementos, quando administrados em conjunto, promoveram a produção de NO exclusivamente nas células do revestimento interno do intestino. O mais importante foi que, em camundongos, os sintomas de uma doença inflamatória no intestino melhoraram significativamente.

O tratamento também teve um efeito benéfico no câncer do cólon, que é conhecido por agravar em caso de inflamação do intestino. Em camundongos com tumores do cólon, a inflamação intestinal atenuou, e os tumores reduziram em número e tamanho após a administração dos suplementos.

Se esta abordagem for capaz de aumentar os níveis de NO nas células do revestimento interno em humanos, poderá ajudar no tratamento de doenças intestinais inflamatórias − e, potencialmente, inclusive do câncer do cólon. O fato de a abordagem usar suplementos nutricionais de venda livre deverá facilitar a sua implementação.

Os colaboradores desta pesquisa incluíram: Julia Frug, Dr. Alon Silberman, Dra. Alona Sarver e Dra. Narin N. Carmel-Neiderman do Departamento de Regulação Biológica; Dra. Chava Rosen, Dra. Biana Bernshtein, Dra. Shiri Gur-Cohen, Dra. Meirav Pevsner-Fischer, Dr. Niv Zmora e Prof. Steffen Jung do Departamento de Imunologia; Dra. Raya Eilam, Dra. Inbal Biton e Prof. Alon Harmelin do Departamento de Recursos Veterinários; Dr. Alexander Brandis do Departamento de Ciências da Vida; Dra. Keren Bahar Halpern do Departamento de Biologia Celular e Molecular; Dr. Ram Mazkereth, da Universidade de Tel Aviv; Dr. Diego di Bernardo e Dr. Nicola Brunetti-Pierri da Universidade Federico II em Nápoles, Itália; Dra. Gillian Dank, da Universidade Hebraica de Jerusalém; e Dr. Murali Premkumar e Dr. Sandesh C.S. Nagamani, do Baylor College of Medicine em Houston, Texas.

A pesquisa da Dra. Ayelet Erez é apoiada pela Fundação Adelis; Fundação Rising Tide; o Fundo da Família Comisaroff; Fundo Irving B. Harris para novas direções em pesquisas sobre o cérebro; e o Conselho Europeu de Investigação. A Dra. Erez é a encarregada da Cadeira de Desenvolvimento Profissional Leah Omenn. 

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