Respire fundo antes de responder: Função cognitiva associada à inalação

20.03.2019

Pacientes que receberam problemas para solucionar enquanto inalavam se saíram melhor nos testes

 

Um café expresso, uma barrinha de chocolate ou ficar em posição invertida – todos esses recursos foram recomendados antes de se submeter a um teste expressivo. O melhor conselho, entretanto, poderia ser apenas respirar fundo. Conforme a pesquisa conduzida no laboratório do Prof. Noam Sobel, do Departamento de Neurobiologia do Instituto Weizmann de Ciências, as pessoas que inalam quando se veem diante de uma tarefa visual-espacial se saíram melhor do que as que exalavam na mesma situação. Os resultados do estudo, que foram publicados na revista Nature Human Behavior, sugerem que o sistema olfativo pode ter moldado a evolução da função cerebral muito além da função do olfato.

 

O Dr. Ofer Perl, que liderou a pesquisa como estudante de graduação do laboratório de Sobel, explica que o olfato é o sentido mais antigo: “Até mesmo as plantas e bactérias podem ‘farejar’ as moléculas em seu ambiente e reagir. Mas todos os mamíferos terrestres sentem cheiros inalando o ar pelos canais nasais e repassando os sinais por nervos até o cérebro.” Algumas teorias sugerem que esse antigo sentido definiu o padrão para o desenvolvimento de outras partes do cérebro. Ou seja, cada sentido adicional evoluiu utilizando o modelo que havia sido estabelecido anteriormente pelos sentidos já existentes. A partir daí, surgiu a ideia de que a inalação, por si só, pode preparar o cérebro para adquirir novas informações – na essência, sincronizando os dois processos.

 

Na verdade, estudos dos anos 40 e posteriores já haviam descoberto que as áreas do cérebro envolvidas no processamento dos cheiros – consequentemente, da inalação – estão conectadas àquelas que criam novas memórias. Mas o novo estudo começou com a hipótese de que partes do cérebro envolvidas em funções superiores também podem ter evoluído segundo o mesmo modelo básico, mesmo sem apresentar vínculo algum ao sentido do olfato. “Em outros mamíferos, o sentido do olfato, a inalação e o processamento de informações andam lado-a-lado” – disse Sobel. “Nossa hipótese assumia que não apenas o sistema olfativo, mas todo o cérebro se prepara para o processamento de novas informações começando pela inalação. Acreditamos que nosso cérebro seja “farejador”.

 

Para testar sua hipótese, os pesquisadores projetaram um experimento em que poderiam medir o fluxo de ar passando pelas narinas dos pacientes, ao mesmo tempo apresentando a eles problemas para solucionarem. O experimento incluía problemas matemáticos, problemas de visualização espacial (em que a pessoa tinha de decidir se um desenho de uma figura tridimensional poderia existir na vida real) e testes verbais (em que a pessoa decidia se as palavras que surgiam na tela eram reais ou não). Os pacientes tinham de clicar em um botão – uma vez quando respondiam a uma pergunta e uma vez quando estivessem prontos para a próxima pergunta. Os pesquisadores observaram que, à medida que os pacientes passavam pelos problemas, eles inalavam o ar logo antes de pressionar o botão, a cada pergunta.

 

O experimento foi projetado para que os pesquisadores tivessem a certeza de que os pacientes não estavam cientes do monitoramento de sua respiração, e eliminaram um cenário em que pressionar o botão era, em si, um motivo para inalar, e não o preparo para a tarefa em questão.

 

Em seguida, os pesquisadores alteravam o ambiente, oferecendo aos pacientes somente problemas espaciais para resolver, mas metade deles era apresentada no momento em que eles inalavam e a outra metade, quando exalavam. A inalação acabou se revelando significativamente associada aos resultados mais positivos nos problemas do teste. Durante o experimento, os pesquisadores mediram a atividade cerebral elétrica com um EEG, e também constataram a diferença entre a inalação e a exalação, particularmente no que diz respeito à conectividade entre diferentes partes do cérebro. O fato foi verdadeiro durante os períodos de descanso, além do período de solução de problemas, com maior conectividade associada à inalação. Além disto, quanto maior a lacuna entre os dois níveis de conectividade, mais a inalação parecia ajudar o paciente a solucionar os problemas. 

 

“Pode-se deduzir que o cérebro associa a inalação à oxigenação, preparando-se assim para se concentrar melhor nas questões, mas os tempos medidos não correspondem a isto” – disse Sobel. “Tudo acontece em 200 milissegundos – muito antes que o oxigênio possa fluir dos pulmões ao cérebro. Os resultados comprovam que não só o sistema olfativo é sensível à inalação e à exalação, mas o cérebro inteiro também. Acreditamos que poderíamos generalizar e dizer que o cérebro funciona melhor durante a inalação”.

 

As constatações poderiam ajudar a explicar, entre outras coisas, por que o mundo parece difuso quando nosso nariz está entupido. Sobel indica que a própria palavra “inspiração” significa, além de respiração, também o estímulo ao intelecto e às emoções. E as pessoas que praticam meditação sabem que a respiração é fundamental para controlar as emoções e o pensamento. Entretanto, trata-se de um apoio empírico importante para as intuições, e demonstra que nosso sentido olfativo, de alguma forma, provavelmente forneceu o protótipo para a evolução do restante do cérebro.

 

Os cientistas acreditam que suas descobertas, entre outras cosias, poderão levar à pesquisa de métodos para ajudar crianças e adultos a se concentrar e controlar distúrbios, aprimorando suas habilidades por meio da respiração nasal controlada.

 

 

A pesquisa do Prof. Noam Sobel tem o apoio do Instituto Nacional Azrieli para Geração de Imagens e Pesquisa do Cérebro Humano; do Centro Norman e Helen Asher de Geração de Imagens do Cérebro Humano; do laboratório de Nadia Jaglom para Pesquisa de Neurobiologia do Olfato; da Fundação Adelis; do Fundo Rob e Cheryl McEwen para Pesquisa do Cérebro; e do Conselho Europeu de Pesquisa. O Prof. Sobel é o responsável pela cátedra de Neurobiologia Sara and Michael Sela.

 

O Instituto Weizmann de Ciências em Rehovot, Israel, é uma das principais instituições de pesquisa multidisciplinar do mundo. Conhecido pela sua exploração abrangente das ciências naturais e exatas, o Instituto conta com o apoio de cientistas, estudantes, técnicos e pessoal de apoio. As iniciativas do Instituto na área de pesquisa incluem a busca por novas formas de combate a doenças e à fome, a análise de questões importantes nas áreas de matemática e ciência da computação, estudos sobre a física da matéria e do universo, a criação de novos materiais e o desenvolvimento de novas estratégias para proteção do meio ambiente.

 

 

As notas de imprensa do Instituto Weizmann são publicadas na Internet, no site

http://wis-wander.weizmann.ac.il/ e também estão disponíveis no site http://www.eurekalert.org/

 

 

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